obra de Humberto Espíndola |
Mais para o centro
O conjunto de obras artísticas
que compõe uma coleção ou acervo possibilita à ação curatorial maneiras
diversas de se articular o conhecimento e interpretação estética que determinamos
à arte. Efetuar novas avaliações para as obras, reorganizando-as
interessadamente a partir de critérios de seleção, é exercício de conexão,
experimentação e especulação que permite o reposicionamento da condição
narrativa que elas assumem a priori.
Mais para o centro, título dessa exposição, propõe apresentar
alguns dos artistas que estão ou já produziram nos Estados do Centro-Oeste
brasileiro, sem a pretensão de se querer representar uma visualidade
característica que defina a região, visto que, apesar da proximidade
geográfica, cada lugar possui e produz elementos de cultura bem peculiares.
Assuntos e interesses diversos
são adotados na construção de discursos particulares que se apropriam da
condição humana para o estabelecimento das complexas relações culturais. Tempo,
memória, poder, lugar são alguns dos elementos articuladores das práticas
artísticas aqui reunidas e revelam o amplo campo expressivo dos artistas que
trabalham em locais ainda não plenamente inseridos no roteiro e no sistema de
arte no país.
O propósito de ações dessa
natureza não traduz o sentimento de menos-valia ou pretende reafirmar a condição
de isolamento. O que se quer evidenciar é a necessidade de reposicionamento da
cartografia cultural brasileira, deslocando a atenção de instituições que
determinam as regras das políticas culturais, oficiais ou não, em direções
periféricas, e, nesse sentido, desviando mais recursos e interesse para a
produção artística do centro do país.
Essa mostra confirma a diversidade
da arte brasileira. Não configura a visualidade singular do Centro-Oeste, mas
traduz a identidade plural de artistas que produzem reflexões e questionamentos
em consonância com o que se vê frequentemente explorado nos circuitos
hegemônicos.
No centro do país encontramos
obras significativas produzidas por Ana
Ruas, Beto Lima, Camila Soato, Carlos Nunes, Dalton
Oliveira de Paula, Divino Sobral,
Edson Castro, Evandro Prado, Genésio
Fernandes, Gervane de Paula, Helder Rocha, Jorapimo, Humberto Espíndola,
Lú Sant’Anna, Marcelo Solá, Mercedes
Barros, Ovini Rosmarinus, Priscilla Paula Pessoa, Paulo Rigotti, Vânia Pereira, Virgílio Neto,
Zilá Soares, entre tantos outros.
Os trabalhos selecionados
integram o acervo do Museu de Arte Contemporânea de MS (MARCO) e coleções
particulares de Campo Grande, correspondendo à proposta conceitual que
evidencia a autonomia das investigações estéticas dos artistas aqui reunidos,
sem que se precise categorizá-los pela realidade ou geografia cultural que
os envolvem.
Rafael Maldonado*
Curadoria, maio de 2014
*professor no curso Artes
Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), atua como curador
independente.