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Esther Casanova, Trajetos Urbanos V, 2011, colagens, 24x32 cm, bloco com 20 obras |
Uma cronologia pessoal: Trajetos de
Esther Casanova
Natural da Capital paulista, onde reside e
trabalha, a artista plástica Esther Casanova foi uma dos quatro artistas
participantes da Primeira Temporada de Exposições 2013, do MARCO - Museu de
Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul.
Ao todo, são 48 obras expostas em diferentes tamanhos e molduras que
apresentam uma proposta – Trajetos - em que dá vida ao espaço urbano
constituído e mesclado de realidades, sonhos e memórias. “A produção da artista
pode ser considerada intelectual e pictória, despojada de convencionalismos,
como uma profunda saudação à vida”, diz o crítico de artes Andrés Hernandez.
Uma vida revivida, eu diria, através de percursos
cromáticos que deslizam desejos. Esses desejos são representados pela
reconstituição de parte de caminhos já percorridos em diferentes cidades e
países, através da utilização da fotografia captada durante seus percursos
diários. A cada passo, uma nova cena, uma imagem surge e vai se sobrepondo a
outra, sucessivamente, adquirindo movimento, gerando camadas assim como os
processos da pintura e colagens, das quais se utiliza. Estas se justapõem
(imagens e suporte) numa composição plástica. As fotos, desenhos, imagens de
circulação em massa, colhidas no transcurso de suas andanças, são elementos
valorizados pela artista. Composição que resulta num belo cromatismo.
As formas representadas em espaço pictórios são ricas
em planos e seqüencias, linhas e contornos que estruturam a materialidade
visual das obras da artista, diversificando os ângulos de visão e contemplação
do espectador. As linhas aparecem aqui como contorno e geometria dos prédios
que ela representa em cada tela, como um registro cartográfico.
Em algumas seqüencias, aparecem os contornos dos
prédios, dos espaços que os compõem; mas, em outras, a difusão cromática se
expande, de forma a não deixar a definição espacial aparente.
Podemos dizer, então, que a intensidade cromática
se dilui na composição para deixar em realce a coloração da fronteira na
composição, provocando contrapontos espaciais entre os elementos representados
e o espaço pictórico, sem alteração no seu formato original. Esta diferença nas
tonalidades em cada peça nos remete a aspectos subjetivos do eu e do outro.
A luz se converte num elemento básico na
linguagem plástica da artista, estabelecendo nexos nos contrastes com as
sombras, definindo conexões entre claros e escuros, e equilíbrio/desequilíbrio ao que é material, palpável, visível e cromático. A dinâmica
espacial que os trabalhos nos oferecem se traduz no deslocamento pictórico e na
criação de planos que se diluem e fundem de tal forma que hibridizam e
contextualizam a composição simultaneamente a partir de materialidade e
estética complexas e coerentes. Contrapontos de circularidade e linearidade de
parâmetros estéticos e plásticos configuram e definem os seus trabalhos.
O aspecto
relevante a ser considerado aqui é que, por meio de ordenações, se objetiva o
conteúdo. A forma converte a expressão subjetiva em comunicação subjetiva. Por
isso, segundo Faya Ostrower, “o formar, o criar, é sempre um ordenar e
comunicar. Não fosse assim não haveria diálogo”. E, ao homem é possível essa
ligação do ontem e do amanhã. Pode atravessar o presente, pode compreender o
instante atual como extensão mais recente de um passado, que ao tocar no futuro
novamente recua e já se torna passado. Dessa seqüencia viva ele pode reter
certas passagens e pode guardá-las, para um futuro ignorado e imprevisível.
Para o mundo da arte.
Se a arte é o veículo de uma percepção especial
de mundo, o artista é o agente que mais tem condições de elaborá-lo. “Para a
concretização de seu objetivo, não basta realizar a obra, deve transmiti-la ao
observador da forma mais simples, mais clara, mais sóbria possível”, segundo
Karl Popper. Então, concluo: assim é a
arte de Esther Casanova.
Maria
Helena Brancher é acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. O texto foi produzido como trabalho da
disciplina Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael
Maldonado.