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detalhe da exposição A gravura de Lasar Segall, poesia da linha e do corte |
Lasar Segall e
a gravura essencial
Nos anos de 1933 e 1934, o artista
plástico Lasar Segall, vindo da Lituânia, tendo passado por Berlim e Dresden, e
definitivamente se instalado na cidade de São Paulo a partir de 1923, organizou
festas carnavalescas para arrecadar fundos com o objetivo de financiar o
desenvolvimento das artes plásticas na SPAM – Sociedade Pró-Arte Moderna.
A decoração das festas e a
concepção de Segall para as fantasias tinham mais a ver com sua formação
artística européia do que com as cores tupiniquins, mas só o fato de aproveitar
uma festa brasileira para buscar o desenvolvimento da arte moderna no Brasil
merece o aplauso, ainda que tardio.
Pode-se conferir a empolgação do
artista com uma festa genuinamente nacional, observando-se a gravura em
ponta-seca Carnaval (c.1926), na
qual os traços eufóricos e a decoração minuciosa do salão retratam a percepção
de Lasar Segall de um evento tão significativo para a cultura brasileira.
Aproveitando o ensejo, faço o
convite para uma visita ao SESC HORTO, para conferir a exposição A GRAVURA DE
LASAR SEGALL – Poesia da Linha e do Corte, na qual são apresentadas aos
sul-matogrossenses, algumas gravuras feitas do período compreendido entre
1913-1930.
É uma ótima oportunidade para ampliar
a formação cultural, e entender como que as diversas técnicas empregadas por
Lasar Segall, a par demonstrarem seu talento e criatividade, comprovam a
necessidade de aprimoramento do método pelo artista, que torna sublime sua obra
criada por inspiração, mediante o apuro da realização técnica.
Artista plural - pintor,
desenhista, gravador e escultor -, Lasar Segall fez um amálgama de sua formação
européia – impressionismo, cubismo, expressionismo -, com as cores tropicais e
temas nacionais, em uma brasilidade típica de quem se afeiçoou ao Brasil com
amor, pois além de casar-se aqui, adquiriu a nacionalidade brasileira.
Sem nunca deixar de lado sua
educação judaica - o tema aparece na
xilogravura Cabeça de Rabino, de 1919 -, Lasar Segall apresenta em sua obra uma
intensa preocupação social, de caráter universal, como pode-se perceber nas
xilogravuras Mendigo de 1913 e Viúva
de 1919.
A temática da realidade social
brasileira surge retratada em sua obra, na
qual pode-se constatar seu inconformismo em relação ao preconceito, na série de
xilogravuras Cabeça de Negro e Cabeça de Negra, de 1929, assim como a miséria
da condição humana está presente na série Mangue, que inclui xilogravuras –
Mulher do Mangue, Casal do Mangue, Casa do Mangue-, e gravuras em ponta-seca,
como Duas Mulheres do Mangue com Persiana, Duas Mulheres do Mangue com Cactos,
o instigante Mulheres do Mangue com Fonógrafo e o lúdico Mulheres do Mangue com Baralho.
Sua origem lituana aparece na
série de gravuras em ponta-seca, dedicada à sua cidade natal, Vilna,
destacando-se Moça de Vilna e Jovem de Vilna, de 1916, além dos Retratos de T e
da Sra. W., ambos de 1919. Especial menção faz-se à gravura em água-forte, Mulher Adormecida, de 1913, na qual os
traços do artista se manifestam em tom intimista e delicado, com utilização alternada
entre linhas suaves e fortes.
O seu êxodo pessoal, reflexo de
sua condição judaica, em busca de seu próprio lugar no mundo, também comparece
na exposição, com as obras Emigrantes
com Lua (c.1926), Emigrantes e Emigrante Debruçado na Amurada, ambos de
1929, apresentando a singular tristeza de abandonar a terra natal, com o olhar
inefável de quem segue o curso da diáspora causada pela Primeira Guerra
Mundial. Destaque-se aqui, a possibilidade de comparar a obra Emigrantes com
Lua, em sua versão em ponta-seca e a gravada em xilogravura.
O mar é o desafio dos que emigram,
a jornada a ser vencida pelos que seguem o êxodo não pelo deserto, mas pelo
oceano. E Lasar Segall captou com muita sensibilidade este percurso, como o visitante
poderá observar atentamente na obra Ondas,
de 1929, na qual o vigor dos traços e a força expressionista do horizonte à
distância contrastam com a proximidade da margem.
Por fim, mas não menos importante,
vale a análise das obras Mulheres Errantes, e Mulheres Errantes II Versão, ambas de 1919. A pluralidade de
enfoques e perspectivas, os traços entre expressionismo e cubismo, a
alternância entre os espaços em branco e as sombras que refletem as incertezas
da vida, na visão do artista em busca do íntimo do ser humano, lançado à
própria sorte num mundo dividido pelas diferenças religiosas, sociais,
ideológicas, políticas e culturais.
O convite está feito. Aproveitar a oportunidade que o
SESC proporciona desde o dia 18 de fevereiro, até o dia 21 de março de 2014,
para admirar a exposição A GRAVURA DE LASAR SEGALL - Poesia da Linha e do Corte,
com a obra de um dos precursores do modernismo no Brasil.