quinta-feira, 4 de agosto de 2022

 



ÁLBUM 4 MÚLTIPLOS

 

O múltiplo de arte é uma modalidade de produção de obras que quebra com algumas categorias tradicionais da arte. Permite, em função da adoção de diferentes matrizes ou procedimentos tecnológicos geradores de exemplares, a criação de cópias seriadas onde cada exemplar possui autenticidade de original. O álbum 4Múltiplos apresenta essa possibilidade plural no trato da obra seriada, ilustrada nas propostas de Constança Lucas, Isaac Camargo, Rafael Maldonado e Sérgio Bonilha.

O conceito de multiplicidade na arte contemporânea transita em diferentes linguagens, suportes e processos de produção, funcionando como estratégias de circulação de ideias sem que se diminua a importância dessa modalidade em relação às que operam com o singular, com o exemplar único. A pluralidade se dá tanto conceitual quanto materialmente. O múltiplo de arte não é considerado obra de menor valor, tampouco põe em questão a importância e a integridade da imagem, mas sua proposição viabiliza o alargamento do campo de ação e consumo de trabalhos produzidos em série em linguagens como gravura, fotografia, escultura, imagem digital, objetos entre outras.

Constança Lucas elabora na trama minuciosa de linhas uma rede de formas geométricas irregulares que, combinadas, atuam para compor a massa visual e rítmica do desenho. Na repetição da palavra paz, disposta em intervalos aleatórios, explicita uma mensagem atual e urgente que ecoa entre os efeitos gráficos de pontos e traços delicados.

Isaac Camargo opera na aproximação da fotogravura usando a imagem digital impressa em papel, transposta e fixada em lâminas metalizadas. Num processo de manipulação meticulosa faz menção aos primeiros experimentos da fotografia, buscando no desbotamento intencional da cor, meios para revelar as nuances de memórias pessoais.

Rafael Maldonado reposiciona a paisagem na geografia e temporalidade de um lugar idealizado. Os elementos são modelados pela fatura de entretons monocromáticos da água-tinta (técnica de gravura em metal) que estabelece o clímax articulado da imagem, onde tudo se define no recorte instantâneo que enquadra e perpetua a cena.

Sérgio Bonilha adota procedimentos combinados (tomada fotográfica, edição digital, serigrafia e corrosão em ácido) para gravar em fenolite cobreado uma paisagem reticulada, atualizando os modos de apropriação e incorporação de tecnologias na arte em prol de redirecionamentos estéticos, traduzindo, na complexidade da linguagem, sua percepção de objeto múltiplo.

Os trabalhos que compõem este álbum exemplificam a concepção do múltiplo trazendo abordagens distintas no manuseio da imagem, ampliando, assim, a significação do sentido da obra artística.   

R.M./ Abril/2022

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