ÁLBUM 4 MÚLTIPLOS
O múltiplo de arte é
uma modalidade de produção de obras que quebra com algumas categorias
tradicionais da arte. Permite, em
função da adoção de diferentes matrizes ou procedimentos tecnológicos geradores
de exemplares, a criação de cópias seriadas onde cada exemplar
possui autenticidade de original. O álbum 4Múltiplos
apresenta essa possibilidade plural no trato da obra seriada, ilustrada nas
propostas de Constança Lucas, Isaac Camargo, Rafael Maldonado
e Sérgio Bonilha.
O conceito
de multiplicidade na arte contemporânea transita em diferentes linguagens,
suportes e processos de produção, funcionando como estratégias de circulação de
ideias sem que se diminua a importância dessa modalidade em relação às que
operam com o singular, com o exemplar único. A pluralidade se dá tanto
conceitual quanto materialmente. O múltiplo de arte não é considerado obra de
menor valor, tampouco põe em questão a importância e a integridade da imagem,
mas sua proposição viabiliza o alargamento do campo de ação e consumo de
trabalhos produzidos em série em linguagens como gravura, fotografia,
escultura, imagem digital, objetos entre outras.
Constança Lucas elabora na trama minuciosa
de linhas uma rede de formas geométricas irregulares que, combinadas, atuam
para compor a massa visual e rítmica do desenho. Na repetição da palavra paz,
disposta em intervalos aleatórios, explicita uma mensagem atual e urgente que
ecoa entre os efeitos gráficos de pontos e traços delicados.
Isaac Camargo opera na aproximação da
fotogravura usando a imagem digital impressa em papel, transposta e fixada em
lâminas metalizadas. Num processo de manipulação meticulosa faz menção aos
primeiros experimentos da fotografia, buscando no desbotamento intencional da
cor, meios para revelar as nuances de memórias pessoais.
Rafael Maldonado reposiciona a paisagem na
geografia e temporalidade de um lugar idealizado. Os elementos são modelados
pela fatura de entretons monocromáticos da água-tinta (técnica de gravura em
metal) que estabelece o clímax articulado da imagem, onde tudo se define no
recorte instantâneo que enquadra e perpetua a cena.
Sérgio Bonilha adota procedimentos combinados
(tomada fotográfica, edição digital, serigrafia e corrosão em ácido) para gravar
em fenolite cobreado uma paisagem reticulada, atualizando os modos de
apropriação e incorporação de tecnologias na arte em prol de redirecionamentos
estéticos, traduzindo, na complexidade da linguagem, sua percepção de objeto
múltiplo.
Os trabalhos que compõem este álbum exemplificam
a concepção do múltiplo trazendo abordagens distintas no manuseio da imagem,
ampliando, assim, a significação do sentido da obra artística.
R.M./ Abril/2022
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