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detalhe da instalação de Lula Ricardi, exposta no MARCO em 2013 |
A
mostra Admirável Mundo Novo, do artista gráfico e fotógrafo Lula Ricardi, em
exposição no Museu de Arte Contemporânea de MS me chamou atenção exatamente
devido aos paralelos que foram sendo realizados, automaticamente, com a obra
homônima, de Aldous Huxley. Admirável Mundo Novo é um livro de 1931, onde, já
no século passado, o autor pressentiu o que iria ocorrer com os padrões da
sociedade do futuro.
No
livro, é detalhado o funcionamento de uma sociedade divida em castas, onde
todas as pessoas são criadas em laboratório e condicionadas a pertencer à
determinada classe. Essas pessoas “aceitam” sua forma de vida e são
pressionadas a se sentirem felizes com isso, através do inicial condicionamento
no laboratório no momento de sua criação e ao contínuo fornecimento de um tipo
de droga pelo governo, a qual constantemente reforçava a ideia de uma vida
feliz e natural.
Logo
na entrada da sala de exposições, nos deparamos com centenas de cabeças de
bonecas penduradas por fios caindo do teto, algo que nos transmitia uma ideia
de massificação, perda de um equilíbrio humanista, desvalorização da condição
humana, mais especificamente. Assunto que se faz presente no livro em que a
mostra foi inspirada. Nessa linha de pensamento, ainda vemos uma fotografia de
várias dessas cabeças de bonecas alinhadas em espetos dentro de um forno
elétrico, como uma carne disponível à venda. Corpos produzidos em massa (como
os dos laboratórios no livro), jogados ao consumo do restante da sociedade.
Outros modos de expressar a desvalorização dos valores
naturais e humanistas – fotografias de cabeças de bonecas jogadas ao chão,
amassadas, quebradas, destruídas. Uma instalação com as mesmas cabeças de
bonecas penduradas dentro de um suporte, juntamente com pedaços de carne,
mostra a contradição dessa massificação, do sentido da vida e do rumo que ela
toma, ou como é vivida, uma vez que todos, na morte, tornam-se idênticos, sem
distinção das classes, ideologias, cor, raça. Nos tornamos apenas matéria
decomposta, como o artista se refere. Pedacinhos quebrados dessas bonecas
dentro de uma gaveta abaixo das cabeças inteiras e dos pedaços de carne mostram
a completa homogeneidade do estado encontrado no desconhecido da morte.
Um conjunto de quadros alinhados e próximos, com rostos
estilizados e, de alguma forma com olhos tampados, me remete às divisões das
classes. Por que a forma de todos os rostos é idêntica, porém, os elementos
acrescidos em cada um são completamente diferentes, por exemplo, cabelos,
chapéus, óculos, plano em que estão posicionados etc.
Constituída de quatorze fotografias,
vinte e seis gravuras e três instalações, a obra de Ricardi, como o próprio
mencionou, busca abstrair a realidade da sociedade massificada e padronizada,
criar uma ponte abstrata do que Huxley retratou, no século passado, e o que
está ocorrendo no momento, na atual sociedade.
Amanda Mamede é acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. O texto foi produzido como trabalho da disciplina
Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael Maldonado.
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