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Lula Ricardi, fotografia, 2013 |
O quão filhos do sistema nós somos? Lula Ricardi nos joga
essa questão como quem joga um lenço á brisa, esperando que o mesmo vá, porém
nunca se perca. Nesta temporada, em
exibição no MARCO, se encontra a exposição
de Lula, denominada: ‘’ Admirável Mundo Novo’’.
O artista define
sua obra como ‘futurista e desumanizada’, de modo que se pareça com os dias
atuais. Composta por cabeças de bonecas em diversas situações é possível
observar tal sentido enquanto absorvemos o contexto que nós mesmos construímos,
padronizado e inundado de regras.
A visão de
sociedade que temos é manipulada. Mas evitamos perceber isso, pois nos é
confortável conviver em uma determinada harmonia regrada, pautada numa
segurança invisível que nos consome, enquanto definhamos. Lula usou bonecas
para suas obras, o que em minha concepção, é uma metáfora que se remete
justamente á nossa semelhança enquanto humanos, nossa semelhança enquanto
componentes do sistema.
Quando enfileira as cabeças de bonecas e as suspende por
linhas, está apontando para a capacidade de sucumbir, a capacidade de engolir o
que nos é dado, sem ao menos mastigar. Em outro momento, e dessa vez
trabalhando com fotografia, Lula espeta as cabeças num cenário de açougue,
demonstrando que estamos propensos ao que nos é dado, que somos tão inclinados ao
comum que mesmo em uma situação degradante, optamos sempre em aceitar a
condição.
Fazendo alusão ás
técnicas que foram utilizadas pelo artista, tenho em vista que foram bem
elaboradas, e que fazem um encaixe interessante com a obra. Desde imagens
manipuladas no computador, que usando simples efeitos conferiram uma poética
autônoma á obra, até a aplicação de pedaços de cabeças de bonecas em uma
estante, para que seja observada com atenção.
O
tema é comum, porém trabalhado de um jeito inerente á expectativa, nos ajuda á
conferir para Lula um atributo de artista, afinal, fazer arte é também
distorcer o contexto sutilmente (ou não) para que se perceba a metáfora íntima
do que em geral, deixa-se passar batido.
Nathaly G. Tenório é acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. O texto foi produzido como trabalho da
disciplina Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael
Maldonado.
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