quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Texto de Bruna Motta do Prado da Silva sobre as exposições “De Mercedes para Manoel”, “Como uma Fotografia”, “Desarrumando o tempo” e “Mi Amas Vin”, no Museu de Arte Contemporânea de MS, de maio a agosto de 2012.

Fotografia de Mercedes de Barros


De Mercedes para Manoel        

            A exposição De Mercedes para Manoel é uma coletânea de fotografias pessoais do poeta, podemos dizer que também é uma coletânea de memórias. Mercedes Barros quis mostrar uma outra visão acerca do tio, ela quis mostrar o que estava por detrás do poeta, o ser humano Manoel de Barros.

            As fotos são de negativos guardados pela família e algumas são colagens poéticas feitas pela fotógrafa, como por exemplo, uma fotografia ilustrando o personagem Bernardo do poema “VI” com abelhas e caramujos e uma frase “Abelhas novembras murmuram meu olho” fazendo analogia às obras do poeta.

            As fotos, que, em sua maioria, são em preto e branco foram dispostas sobre a parede de forma que formassem uma borboleta, simbolizando a mudança da visão do expectador sobre Manoel de Barros.

            Há somente duas fotos emolduradas (“Pai Sinjão e mãe Alice” e a foto de seu casamento) e o nome das fotografias foram escritas à lápis direto nas paredes. Foi uma mostra que eu gostei muito, pois a fotógrafa conseguiu seu objetivo de fazer uma ressignificação no expectador.
 

Como uma fotografia 

            O fotógrafo Roberto Müller apresenta suas obras de maneira um pouco diferente do comum. Ele combina e relaciona suas fotografias com objetos do cotidiano como, por exemplo, caixas de cigarro.

            Em “O Ministério da Saúde não Adverte” há uma relação entre a fotografia e as causas de se fumar excessivamente que estão na parte de trás das embalagens de cigarro, algo que o Ministério da Saúde deixa de advertir quando é a causa de outro mal, como o hambúrguer, um alimento vendido em fast foods que geralmente contém substâncias duvidosas nos ingrediêntes para, por exemplo, conservá-los.Tinha como moldura a embalagem escrita “produto tóxico”.

            Em “Por Favor não perturbe”, Roberto usa fotografias de pessoas dormindo ou ocupadas penduradas à uma maçaneta como um aviso de que não querem ser interrompidas.

            Em algumas das obras apresentadas, há jogos de palavras, como, por exemplo, em “Vendo não veem” onde há textos em quadros brancos que estão desfocados e somente as palavras relacionadas e sinônimas à ver ou visão estão nítidas. Ao lado de todos os quadros do conjunto da obra, há outro quadro branco com escrituras em braile, mostrando um outro jeito de se olhar.

            Uma das obras que mais me chamaram a atenção foi a “Jogos Cruzados”, pois é uma sequência de fotos que retratam uma partida de vôlei que estão dispostos como peças de dominó que foram colocadas uma a uma no chão e que depois de derrubada uma peça, as outras caem, assim como uma foto sequência.

            Fator de Corte” foi outra obra pela qual me interessei muito. São objetos como fósforos, um par de tênis, peças de dominó e outros ojetos do nosso convívio que foram retratadas ali e que nos mostram a relação fotografia-objeto de um jeito mais escancarado possível, invertendo os elementos, tornando o objeto em uma fotografia e interagindo com a moldura um tanto quanto inconvencional pela sua profundidade, mas que nos faz lembrar da moldura comumente usada em fotografias.
 

Desarrumando o Tempo 

            É uma exposição composta por trabalhos de diversas séries feitas desde os anos 80 e que, por isso, há um desconcerto no tempo entre o ato de fotografar e a visualização da fotografia. No caso da maioria das obras, se passaram anos desde o momento em que foram fotografadas até o dia em que foram expostas. É daí que sai o nome da mostra.

            Mercedes Barros faz sobreposições de fotos e colagens, fazendo assim com que cada obra narre uma história. Algumas obras tem o objetivo de sobrepor o punctum, isto é, aquilo que nos choca, do studium, aquilo que nos faz criar um afeto imediato. Um exemplo claro disso está na obra Pink Cowboy de 2010 em que há um cowboy, que no senso comum é um ser másculo, pintado de rosa, a cor símbolo do homossexualismo. O elemento que nos faz chocar é a combinação do ser másculo com a cor do homossexual, nos faz repensar sobre aquele indivíduo. Outra obra que também exemplifica isso é a Pitu de 2000, onde retrata uma moça vestida de branco, um garoto com trajes típicas da região pantaneira sobrepondo a fotografia de um matadouro. A figura das carnes suspendidas e do sangue abaixo delas é o elemento do punctum por neutralizar a ideia de pureza nas figuras da mulher de branco e do garoto com a ideia de morte, talvez de “sujeira”.

            A obra que eu mais me interessei foi a obra “It could happen to you” que é um coletivo de fotografias que me remete à memórias de alguma indivíduo e textos espalhados como um diário.
 

Mi Amas Vin  

            Uma mostra que tem como tema a religiosidade no nosso país, as obras foram fotografadas em diversas cidades do norte, nordeste do Brasil e no Distrito Federal. Retrata, em sua maioria, devotos à várias religiões como a católica, ubanda e o culto do Santo Daime. O fotográfo quis mostrar a variedade religiosa do brasileiro, seus devotos e seus cultos.

            Marcelo Buainain tenta, através do registro de cada momento, expressar, compreender e vivenciar a existência e manifestações do Divino, uma vez que a religião, cientificamente falando, seria somente um aglomerado de ideias, uma explicação atribuída à algo muito maior e mais grandioso do que o ser humano sobre coisas e fenômenos em micro e macro esfera que não podemos explicar. O artista quis experimentar cada uma dessas ideias diversificadas, quis sentir esse tal algo maior e mais grandioso e ver o poder que exerce nas pessoas que partilham dessas ideias.

            Todas as fotos foram tirada em preto e branco para dar uma ar talvez mais sério e mais artístico dessa experiência. Boa parte das fotografias retratam os fiéis em momentos importantes para cada religião como , por exemplo, rituais.

            Foi a exposição que eu menos me interessei por causa do tema, mas mesmo assim tive admiração. Marcelo fez um ótimo trabalho de relatar a diversidade religiosa no nosso país, mostrando cada momento importante para cada religião, é preciso registrar isso, pois faz parte da nossa cultura.


Bruna Motta do Prado da Silva é acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O texto foi apresentado como trabalho da disciplina  Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael Maldonado.

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