Na roda da vida que gira,
dinamicamente no imenso espaço da existência humana, com todas as suas
incertezas na qual estamos destinados a possuir. Um breve olhar pro universo já
nos traz um profundo pensamento na relação do Homem e o espaço, ampliando um
paradoxo de pensamentos que adere a filosofia, a ciência e a fé. Reflexão
mítica não faltando indagações, embora algumas respostas apareçam, a dúvida é
com certeza a direção do caminho.
Pensar em espaço é associar
a lugar, o homem no seu lugar. É o relacionar com o mundo a sua razão de
existir nele, conseqüentemente o de agir em função às suas crenças. Um assunto
bastante discutido em vários campos do conhecimento humano num processo
incessante de auto-compreensão, que faz da natureza do homem ter a capacidade
de uma visão única e pessoal diante desde meio.
A partir dos primeiros
movimentos físicos do corpo já é possível ensaiar o espaço em si interligando a
percepção consciente da possibilidade de pensar e sentir, dentro do meio em que
vive segundo Fayga Ostrower. Assim utilizando da expressão para transpor essa
linguagem de forma à comunicar essas visões globais.
Nesta exposição “Dialetos” o
tema utilizado foi baseado nessas concepções da relação do homem-universo. A palavra vem da variação na fala e faz uma
associação na linguagem artística de forma que, em sua leitura a expressão
origina de um universo do criador com o trabalho, do artista com o mundo.
As técnicas utilizadas vão
além da tradicionalidade, algo inusitado extremamente interessante além de
traços ousados na questão do tema proposto, sendo de um impacto visual tocante.
Mais ainda por ser uma mescla de artistas emergentes de campo-grandenses,
Brasília e de Goiânia aparentemente com produções recentes.
Nota-se o objetivo de
disseminar a arte contemporânea jovem utilizando novos elementos estéticos
causando certo anseio e curiosidade, um ar de sedução. Das obras relacionadas, muitas
deixavam claramente expostas o que o artista teve intenção de passar. Notavelmente
as questões sociais imprescindíveis de reflexão, exibem a necessidade da busca
de resposta para a solução do problema.
Escolhemos para abordar, a obra com um
conjunto de três telas “Cobre mesa.2012”, “Vaso.2012” e Pavão.2012”, de Ana
Ruas. De uma grandiosidade e beleza sem comparação! A razão da escolha vem da
sutileza com que se trata o tema, onde há uma necessidade de recorte da
percepção e uma observação um pouco mais atenta.
“COBRE MESA”, “VASO”,
“PAVÃO”
A princípio a atenção já se
direciona para o conjunto de telas pela grandeza no espaço, postadas lado a
lado. Uma característica original que representa bem a personalidade da artista
nos seus trabalhos.
Em sua história, é possível
notar a visão socializante da artista com suas obras. Procurando interferir de
forma a modificar o meio, contagiando com os imensos trabalhos e principalmente
o contexto de sua razão.
Nesta obra, transita os motivos
florais a atenção para a utilização de apenas uma cor em si, o branco. Ao seu
fundo as cores dos florais se destacam como algo pacífico, transmitindo uma
sensação de leveza no olhar, em contraponto com o branco, dando forma sobre
eles. Existe uma associação da feminilidade nas flores, com uma poética que
circula no meio da vida em si.
Seguindo este pensamento, as
flores simbolizam a vida. Numa representação um tanto clássica, mas de
entendimento simples acessível a qualquer um. Porém desta pequena forma a
reflexão gira em um campo um pouco mais profundo em sua relação com a vida e o
homem em si.
No primeiro quadro “Cobre
mesa”, demonstraria a vida sobre a terra? Com a relação de poucas flores
realçadas comparado com o segundo, numa forma estática, porém contínua. Mas um
toque mais apurado percebe-se que o realce foi devidamente escolhido.
Já na segunda tela “Vaso”, os
ressaltos das flores estão em maior quantidade na parte superior equilibra com
a falta das cores da primeira na parte inferior, e com a terceira onde se
encontra o pássaro, causando uma harmonia suave. E o sentindo engloba o
profundo pensamento da vida no mundo, descrita com as flores no vaso, da
relação do existir num espaço limitado.
Nesta mostra fica evidente a
associação que fez a artista com o tema, exibida centralmente no conjunto das
telas.
A terceira “Pavão”, seria
talvez no sentindo do ego humano supremo? O sentido talvez fosse o mesmo, porém
outros elementos trazem inquietação. O pavão encontra-se em cima de um
bebedouro e sobre as flores de forma que ocupa o espaço natural delas,
associando com a igual idéia do espaço limite da vida.
As conclusões então giram em
torno do tema central da relação do homem com o universo, ocupando em seu
espaço com as incertezas sendo um limite ao qual torna a vida algo preso ao
tempo, assim como as flores.
É interessante pensar sobre
esses fantasmas que perpetuarão sobre nossas vidas, uma vez que no momento
presente há tantos efeitos causados pela ação do homem no mundo.
E finalizando, a sutileza da
artista notável e a admirável visão encontrada numa estamparia simples e a
utilização dos seus elementos sobre a repetição das imagens ao fundo é
impressionante. Uma vez em que nossos olhos seguem na imagem as formas
ordenadas na estrutura espacial.
Forçando os pensamentos
enquanto há uma busca de identificação das suas formas em segundo plano, não
deixando de prevalecer a dimensão da expressão num enfoque tão profundo.
Não deixando de mencionar
que as três telas completam uma e a outra, expressando uma seqüência nos
pensamentos expressos em fases.
Fases que descreve a artista
Ana Ruas, renomada e admiravelmente de uma personalidade inquieta e preocupada
com as questões sociológicas.
Danielle Higa Miyagi é acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O texto foi apresentado como trabalho da disciplina Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael Maldonado.
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