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Rondinelli Linhares, Ao momento presente, 2012, 50 x 65 cm |
Dialeto: do grego diálektos: 'conversa, conversação, discussão por perguntas
e respostas; maneira de falar, linguagem própria de um país’; Variante regional
ou social de uma língua. Falantes de uma mesma língua apresentam diferenças nos
seus modos de falar, de acordo com o lugar em que estão, com a situação de fala
ou registro ou, ainda, de acordo com o nível socioeconômico do falante.
A exposição fala exatamente sobre essa
‘variante’, desses diversos tipos de linguagens. As obras tratam de problemas
sócias, mas de diversas maneiras, técnicas e materiais.
O artista tenta mostrar seu olhar sobre o mundo,
sobre os problemas sociais.
Dividir a exposição em duas partes nos dá a
idéia de como são trabalhadas as diversas técnicas utilizadas pelos artistas.
De um lado as pinturas e instalações que nos mostram uma visão mais particular
de cada artista. Do outro lado os desenhos em nanquim e intervenções digitais.
Os desenhos em nanquim, assim como as pinturas, também nos mostram a visão particular
dos artistas. Já as fotos podem ser manipuladas digitalmente: há a visão do
artista, mas há também a inserção de novas imagens.
Um dos quadros que me chamou a atenção foi “Ao
momento presente” de Rondinelli Linhares. Eu tenho algo que me atrai quanto a
corações. Nada mais piegas, melancólico, lírico do que um coração. Ainda mais
quando este vem dentro de uma caixa, embalado pra presente, com uma etiqueta
dizendo ‘Obrigado por não ter me amado’. Isso com certeza faz com que até
aqueles que se dizem “durões” se “derretam”. Ou talvez não. Bom... Isso não vem
ao caso.
Não há dúvidas sobre o que o artista quer
dizer: O amor é uma droga! Ou como bem disse Camões é “uma ferida que dói e não
se sente”. Se bem que no caso de
Rondinelli, parece que ele sente a dor na ferida. E parece ser uma ferida a
qual ele não quer fechar. Mas também, fechar porque? Para que? Muitas obras
nasceram assim, da perda de um amor, de uma ferida não cicatrizada. Rondinelli
analisa no retrato a saudade, as mágoas e dúvidas, a solidão, enfim, as
lembranças desse amor perdido.
Como em um filme Noir, Rondinelli consegue,
com jogos de claro-escuro, transpor para o papel toda a nostalgia e vestígios
do amor perdido. No seu trabalho, o amor “faz vítimas”, não há o final feliz.
O coração colocado não dentro da caixa, mas
acima desta, nos da a impressão de movimento: o dono dele está o retirando da
caixa para que possa ser devolvido ao lugar o qual pertence. Há também o
destaque: o coração na frente de uma parede branca, sozinho, segurado apenas
por um fio, nos remete à solidão, à mágoa.
A tampa da caixa também nos remete a idéia de
movimento: parece que ela vai escorregar, cair de uma vez em cima da mesa,
talvez fazendo barulho e assustando o remetente, ou talvez silenciosamente,
fazendo com que o remetente sinta mais tristeza.
A caixa, mesmo tendo a tampa apoiada nela, parece sozinha, perdida no tempo. Assim como o autor deve ter se sentido quando seu amor se foi.
A técnica escolhida também remete a tudo
isso: o preto e o branco, e algumas nuances de cinza, retrata esse mundo
triste, infeliz, nostálgico do artista. É como se colocasse cor, a lembrança
desvanecesse, como se ele não tivesse sofrido o tanto que sofreu para poder
construir essas imagens. A dor faz parte tanto da idéia, da construção do
quadro, quanto da imagem.
Já em 1886 Camille Claudel, em uma de suas
cartas a Rodin, escreveu: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me
tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta). Em seus
quadros, Rondinelli diz muito, não com palavras (apesar de alguns de seus
quadros terem colagens de poemas), mas sim com sua dor. Diz o quanto dói essa
separação, essa ausência da pessoa amada, mesmo que ela tenha te magoado muito.
Com sua obra, Rondinelli toca num ponto
delicado para a humanidade, um ponto que jamais deixará de existir, enquanto
houver seres humanos caminhando sobre o planeta.
Jamille Zambrim é acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O texto foi apresentado como trabalho da disciplina Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor Rafael Maldonado.
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